Depois de 6 horas praticando snowboarding, eu sinceramente não consigo acreditar que a minha pior queda ia acontecer justamente em casa. Há uma hora atrás, aqui estava eu, feliz e contente descendo as escadas atrás do melhor sinal de wi-fi, quando de algum modo minhas pernas pararam de funcionar e eu rolei uns 10 degraus abaixo. Sim, eu estou bem e viva. E a melhor parte é que meu computador também sobreviveu. Foi o cansaço que fez isso.
Mas enfim, depois desse incidente inesquecível acima, o melhor que tenho a fazer é relatar o quão maravilhoso, cansativo e doloroso foi o dia de hoje.
Acordamos às 08h00min da manhã – Eu, Lidwina e Genie (a trainee neozelandesa) – e começamos a nos preparar para o longo dia que nos esperava, que felizmente, apesar de muito frio, estava bem ensolarado. No caminho até a estação paramos num pub e bebemos nosso tradicional chocolate quente. E depois de perder o primeiro ônibus, finalmente chegamos a Poiana, a estação de ski.
Parte I: alugar o equipamento
Essa foi a parte chata e cara. Como não tínhamos calças apropriadas, tivemos que comprá-las, pois em nenhum lugar alugavam-se roupas. O bom é que agora tenho roupas para praticar esportes na neve em qualquer lugar.
Assim que descobrimos um legal e com pessoas bem atenciosas para alugar os equipamentos, Genie e eu resolvemos ficar com o snowboarding enquanto Lidwina preferiu o ski.
Parte II: os primeiros passos
De todos os esportes que eu pratiquei na vida, definitivamente nada foi tão difícil quanto o snowboarding. E eu sinceramente cheguei a pensar que seria fácil já que havia aprendido com certa facilidade a esquiar no Chile
Depois de 1 hora de aula com um instrutor de merda, que tinha um inglês pior que o meu e só sabia falar para mim ‘‘Vamos a La plaia?’’, eu e Genie tivemos que nos arriscar sozinhas. E foi nessa hora que começaram os tombos feios.
Descer a montanha, ficar em pé na prancha e mudar de posição foram as partes menos difíceis. O impossível mesmo era parar sem correr o risco de quebrar algum membro do corpo.
Parte III: os salvadores da pátria
Depois de cair, cair, cair, cair, cair e cair de novo, eu deitei na neve e gritei para Genie: - ‘‘I don’t wanna do this anymore. I Will never learning how to stop!’’ – E foi nessa hora que dois anjos em forma de meninos-sarados-e-praticantes-de-snowboarding ouviram meu apelo e se ofereceram para nos ajudar.
Eu juro, em uma única descida pela montanha com um deles, aprendi muito mais que em uma hora com aquele instrutor idiota. Talvez fosse por causa do sorriso que ele me dava toda vez que eu fazia cara de medo, talvez fosse porque cair com ele era mais divertido, ou talvez fosse somente porque ele era melhor instrutor. Mas o importante é que eu aprendi a parar – e mesmo depois de ter descoberto que meu anjo já tinha namorada.
Parte IV: a volta para casa e os hematomas
Depois de aprender a parar, tudo ficou mais divertido. Continuei caindo, confesso. Mas enfim comecei a acreditar no meu potencial.
E após horas de tombos e risadas, o lindo sol enfim desapareceu, o que nos fez pegar a estrada de volta para casa.
Sentada no ônibus foi que eu comecei a perceber o quanto meu corpo doía. Minhas pernas já não me obedeciam mais, meus dedos racharam por causa do gelo, meus joelhos imploravam por um fisioterapeuta, minha bunda doía só de pensar em ficar sentada e até meu cabelo estava congelado. Isso sem falar na minha cabeça, que provavelmente vai doer até a semana que vem depois de ter batido ela com tudo no chão duro de neve, e nas marcas roxas que vão ficar comigo por um bom tempo.
Mas assim que as dores passarem com certeza voltaremos lá de novo. Pois além de ter sido uma experiência incrível, a diversão esteve conosco todo o tempo. Tiveram os tombos inesquecíveis, eu e Genie rolando na neve com os nossos anjos, o instrutor chato, Lidwina e seu gorro em formato de panda e nossas guerras de bola de neve.
Ah, e o mais legal foi que finalmente conheci um brasileiro por aqui. Depois de mais de três semanas tive meu primeiro contato direto com a língua portuguesa, o que me fez ficar falando igual a uma tonta. Mas quem ficou feliz mesmo com a presença do brasileiro foi Lidwina. Como os dois estavam tentando aprender a esquiar, eles acabaram ficando juntos a maior parte do tempo. O chato é que ele só está de passagem pela Romênia, em um ou dois dias ele se manda para continuar sua Eurotrip.
Bem, amanhã é dia de voltar ao trabalho. Provavelmente vou ter que fazer um esforço imenso para disfarçar o cansaço e as dores nas pernas. E depois dessa ultima queda nas escadas, vou começar a tomar mais cuidado para não sair despencando por aí.
E mãe, largo logo a dica: com João passando no vestibular, temos que voltar a viajar em família esse ano. E sugiro Bariloche, ou Chile de novo.
Saudades de ter um bom gelol à minha disposição.